quinta-feira, 24 de março de 2011

Teus modos


É inevitável não gostar de você
dessa cara que você me olha
dessa língua que você me beija.
Gosto disso,
de me perder nos teus cabelos bagunçados
e de me perturbar com as tuas poucas palavras,
que saem tranquilamente, deliciosamente cantadas
sob a fumaça do seu cigarro
entre livros e discos,
teu suor
teu sorriso.
E eu na cama
preso no silêncio dessa doce risada
compartilhando com os lençóis
o toque das tuas mãos sinceras.
E assim eu,
livre para poder partir
e imóvel por querer ficar
já me contento, afinal,
com a ingenuidade do estar.
Com você, sempre.

Para Luiz Felipe, a minha bagunça mais bonita,
em 15 de Junho de 2009.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pedido ao Coração


Tentei enganar a mim mesmo, fiz alguns planos para dispersar o medo, mas vou te confessar: trair você, Coração, é o mesmo que brigar com os pais e voltar pra casa logo depois, com as malas feitas, cheias de esperança, pedindo perdão. Uma hora ou outra, a gente se entrega, não há como escapar da redenção.
Diante de algumas situações até pensei que havia te esquecido, que já estava livre para poder partir atrás da tão procurada felicidade, sem me preocupar com o peso da tua presença. Em algum momento deve ter adormecido, cansado de tantas decepções, fatigado pelo tempo, machucado pelos outros. Mais cedo ou mais tarde, haveria de descansar.
Mas mesmo em silêncio, você estava ali, dentro de mim, insistindo em me levar para caminhos desconhecidos, lugares para onde eu não deveria ir.
Coração egoísta, sempre dando um jeitinho de chamar minha atenção só pra ti.
E recorda-se de quando chegou o fim? Eu não me lembro, ainda não acabou pra mim. Esquecera-se de que sono não é remédio para o amor, e que quando acordasse, estaria tudo ali, do mesmo jeitinho em que havia deixado? O tempo pode ter se encarregado de cicatrizar algumas feridas, de esquecer outras ilusões. Mas ao acordar, baby, nem tudo são flores. O dia ainda é longo, e há de se ir à luta.
Sei que pulsas involuntariamente, mas sangra por burrice. Será que não consegue fazer as escolhas certas? Quero deixar de acreditar que o único dom que tens é o de me fazer enganar.
Por isso te peço, Coração: Acorda! Não perca mais tempo, nem permita escapar novas oportunidades. Há tanto para descobrir, outros corações para visitar. Aproveite, deixe-se levar. Dê-me a mão, a estrada pode ser interessante.
Vamos fazer um acordo: não me resta outra opção a não ser te aceitar, mas já estou cansado de te perdoar.
Acorda, para de sofrer por bobagem. Há quem não mereça ser carregado por você, Coração.
Livre-se logo dessa bagagem.

Em 09 de Março de 2011, Quarta-Feira de Cinzas, entre São José dos Campos e São Paulo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Resposta


Falam, implicam e zombam da nossa tristeza, mas se esquecem que ela é tão legitima quanto a alegria deles.
Chamam-nos de depressivos.
Não negamos.
Mas acredito sermos muito mais.
Somos sensíveis mais que a maioria das pessoas, e acreditamos que detalhes fazem toda a diferença.
O chão mais sujo pode se tornar o mais belo lugar, e aquele amor por um certo alguém a maior das desilusões.
Até podemos não ser como eles querem, mas somos o que queremos, e assim sendo, escrevemos sobre tudo que nos inspira.
Essa habilidade poucos reconhecem, só vêem o nosso pior lado.
Porém, aprendemos entre outras coisas a não ligar para o que dizem sobre nós.
Eles não sabem quem somos...

Encantado. Este texto me foi dedicado por Sílvia Malta, no dia 20 de Janeiro de 2010, em www.demasia-demasia.blogspot.com

quinta-feira, 10 de março de 2011

Convite

Você veio
inundando meu mundo
me mordendo a boca
me chamando de seu.
Me mostrou
como são alegres as noites de verão
me tirou o ar com o seu corpo mais perto,
me fez voar sem tirar os pés do chão
e me descobriu entregue no teu olhar mais sério.
Me matou de vergonha
deu risada da minha cara
me deixou vermelho numa graça.
E agora, já estou sem escolha.
Vou te dizer: tá foda, menino.
Decide se vai dar um fim nessa história
ou se vem ser feliz comigo.

Com carinho para Igor Vinícius, em 04 de Março de 2011.